1. Nós, que já vivemos em campos de concentração, podemos nos lembrar dos homens que caminhavam por entre os abrigos confortando os demais, oferecendo a outro o seu último pedaço de pão. Pode ser que tenham sido poucos, em termos numéricos, mas nos dão prova suficiente de que tudo poderá ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas. Escolher a atitude a tomar em qualquer conjunto de circunstâncias – a escolha do seu próprio caminho… É essa liberdade espiritual – que jamais poderá ser eliminada – que dá sentido e propósito à vida.
2. O modo como o homem aceita o seu destino e todo sofrimento que daí advém, o modo como ele carrega sua cruz, lhe dá uma ampla oportunidade – mesmo sob as mais terríveis circunstâncias – de acrescentar um sentido mais profundo à sua vida. Pode ser que ele permaneça corajoso, digno e generoso. Ou, na árdua batalha da autopreservação, pode ser que se esqueça de sua dignidade humana e se torne não mais que um animal. É nesse momento, em uma situação difícil, que o homem poderá optar entre honrar seus valores ou abrir mão deles.
(Viktor Frankl, nascido em Viena em 26 de março de 1905, foi grande nas três dimensões em que se pode medir um ser humano por outro ser humano: a inteligência, a coragem e o amor ao próximo. Mas foi maior ainda naquela dimensão que só Deus pode medir: na fidelidade ao sentido da existência, à missão do ser humano sobre a Terra. Homem de ciência, neurologista e psiquiatra, não foi o estudo que lhe revelou esse sentido. Foi a temível experiência do campo de concentração. Milhões passaram por essa experiência, mas Frankl não emergiu dela carregado de rancor e amargura. Saiu do inferno de Theresienstadt levando consigo a mais bela mensagem de esperança que a ciência da alma deu aos homens deste século).