Sementes da Educação para a Plenitude

Educar continua sendo, mais do que nunca, uma das mais encantadoras das artes. E, com certeza, a mais desafiadora, sobretudo pelo fato de estarmos vivendo em tempos de profundas e vertiginosas mudanças em todos os setores da vida, mormente no que se refere ao impacto das novas tecnologias. A sociedade nunca esteve tão exposta aos produtos da mídia como nos dias atuais. Tais tecnologias vêm exercendo total fascínio nas crianças e nos jovens, provocando mudanças extraordinárias e fundamentais na maneira de as pessoas enxergarem, interpretarem e se relacionarem com os outros e com a realidade do mundo.

Já estamos vivendo intensamente os impactos da sociedade 3.0, descrita por Jonh Moravec, um estudioso sobre o futuro do trabalho e da educação. Ph.D pela Universidade de Minnesota, ele afirma que a sociedade se aproxima de um futuro cada vez mais complexo e ambíguo e que a mudança tecnológica impulsiona mudanças sociais com impactos cada vez mais acelerados. Segundo Moravec, nossas escolas, universidades e outras instituições baseadas no conhecimento devem saltar à frente da curva, para preparar pessoas capazes de sobreviver com desenvoltura no mundo altamente globalizado. A sociedade 3.0 é a sociedade da inovação, com três eixos condutores:

  1. A aceleração das mudanças sociais e tecnológicas.
  2. A globalização contínua.
  3. A inovação impulsionada por “knowmads”, os trabalhadores nômades do conhecimento, inovadores, imaginativos, intuitivos, alfabetizados digitalmente, capazes de trabalhar em qualquer lugar e momento e com qualquer pessoa, que aplicam suas ideias e conhecimentos em diversos setores sociais, criam redes, aprendem permanentemente e não têm medo do fracasso.

Tal sociedade chamada do conhecimento demanda uma concepção de educação como uma realidade presente durante toda a vida da pessoa e que pode se desenvolver em todos os âmbitos educativos. Nesse contexto, podemos referir-nos sobre a importância de potencializar uma educação para a plenitude humana, para bem mais além, inclusive, da busca do domínio dos vários conteúdos curriculares ou de cursos nas várias áreas do conhecimento humano. Trata-se de promover o envolvimento de todas as pessoas comprometidas com processos educacionais numa grande parceria, empreendendo todos os esforços possíveis e plausíveis para promover a formação e o desenvolvimento de pessoas plenamente humanas.

Assim, conscientes da missão educacional assumida por nossas instituições, somos convidados a caminhar rumo a uma educação que possa contribuir com a formação de:

– Pessoas conscientes de si mesmas: capazes de conhecer seus potenciais e buscar maneiras de desenvolvê-los ao máximo, ao mesmo tempo em que busca conhecer e superar suas próprias limitações alcançando patamares inéditos de realização pessoal. Pessoas que buscam enxergar e viver a vida com otimismo e entusiasmo realista, descobrindo que o segredo da existência humana consiste em ter um motivo para viver e abrindo-se sempre para novos horizontes e possibilidades de crescimento pessoal. Pessoas que assumem a liderança e o protagonismo de suas vidas, superando o sentimento de serem meros figurantes no palco da existência. Pessoas que desenvolvem uma ética pessoal pautada por valores essenciais como autenticidade e autodomínio, caráter e disciplina, honestidade e humildade, otimismo e felicidade.

– Pessoas conscientes do valor do outro – alteridade. Segundo Frei Betto, alteridade (do latim alter: o outro) é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. Quiçá, menos guerras no mundo. Pessoas capazes de perceber o outro como outro, sendo capazes de conviver com as diferenças que pressupõem a realidade do outro, já que somos todos iguais nas diferenças e todos diferentes na igualdade. Pessoas que, segundo Frei Betto, assumem a via mais curta da comunicação humana, que é o diálogo e a capacidade de entender o outro a partir da sua experiência de vida e da sua interioridade. Pessoas que adotam a ética das relações em sua prática cotidiana, pautada por ,valores essenciais como respeito e generosidade, flexibilidade e paciência, solidariedade e empatia, tolerância e sensibilidade.

– Pessoas conscientes do mundo circundante: pessoas que sabem sobre como a humanidade vive hoje uma preocupante situação de emergência planetária, marcada por uma grande quantidade de graves problemas estreitamente relacionados entre si: crescimento incontrolado da população mundial que, segundo a ONU já chega a 7 bilhões de pessoas; esgotamento de recursos naturais (segundo a Organização Mundial do Comércio, em seu relatório World Trade Report – Natural Resources, recursos naturais são “estoques de materiais existentes em ambiente natural que são escassos e economicamente úteis”). Ou seja, se forem usados de forma excessiva, terminarão e, assim, já estamos tendo grandes problemas; evidente contaminação e degradação dos ecossistemas e contaminação crescente da atmosfera, solo e água, aquecimento global, consequência dos impactos das atividades humanas sobre o ambiente; urbanização crescente e desordenada, com o óbvio aumento das ocupações de zonas de risco, da marginalização e insegurança, da desconexão com a natureza, etc.; profundos desequilíbrios (cerca de 18% da humanidade possui 80% da riqueza do mundo) traduzido em todo tipo de guerras e violências; perda da biodiversidade, com o envenenamento do solo, ar e água, fazendo desaparecer milhares de espécies a ritmo que podemos chamar de extinção massiva… São alguns, entre tantos outros, problemas também graves, impactando de todas as maneiras a vida das pessoas e do planeta. Pessoas comprometidas em desenvolver, promover e fomentar atitudes, comportamentos e ações concretas que possam favorecer a construção de um mundo muito melhor para todos viverem nele. Pessoas que se dedicam, em sua vida diária, a uma ética planetária pautada por valores essenciais como benevolência e cuidado, ecologia e gentileza, responsabilidade e serviço, simplicidade e sobriedade.

– Pessoas conscientes da vida como dom, que assumem a ética da sustentabilidade como princípio fundamental de sua existência humana na Terra. É a ética da vida para a vida. É uma ética para o encantamento e o reencantamento do mundo, onde o desejo de vida sobreponha o poder da imaginação, da criatividade e da capacidade do ser humano de sonhar uma nova realidade para o planeta, baseada na harmonia e na diversidade. Pessoas que elegem valores essenciais como amorosidade e transcendência, valentia e prudência, paz e compromisso, decência e desprendimento, determinação e alegria.

Utopia? Sim, no sentido dado por Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio. Ele nos conta algo que tem a ver com o direito de sonhar, com o direito ao delírio, a partir do que aconteceu com ele e um amigo em Cartagena, cidade colombiana e capital do Departamento de Bolívar. Ele e seu grande amigo Fernando Birri, diretor de cinema argentino, estavam dando uma palestra na universidade. Os estudantes faziam perguntas às vezes para Galeano, às vezes para Birri. Coube a Birri, segundo Galeano, a mais difícil de todas as perguntas: para que serve a utopia? E sua resposta foi respondida estupendamente da melhor maneira. Ele disse que a utopia está no horizonte. E disse: eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se afasta dez passos. Quanto mais eu buscá-la, menos eu a encontrarei porque ela vai se afastando à medida que eu me aproximo. Pois a utopia serve para isso, PARA CAMINHAR.

O SINEP-MG (Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais), sempre atento aos grandes e graves desafios da educação, pioneiramente, escolheu como eixo temático do XIII Encontro Mineiro de Educação, a ser realizado no Hotel Tauá, de 10 a 12 de abril de 2015, Educando Rumo à Plenitude Humana. Assim, pretende, durante três dias, possibilitar aos participantes aprofundarem sobre tal temática, oferecendo elementos teóricos e práticos para que cada qual possa inserir na programação das atividades educacionais de suas escolas tanto a reflexão e estudos quanto a criação de atividades que venham a promover uma educação que conscientize e sensibilize, capacite e ecologize, dialogue e gere amorosidade.

José Donizetti dos Santos

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